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A participação infantil no contexto da construção social da infância

 

 

09 de março de 2011

 

 

Sabrina da Costa Dias*, professora de educação infantil da rede particular de ensino de São Paulo, enviou este texto ao De Olho no Plano. Participe também! Envie seu artigo (acadêmico ou de opinião), depoimento ou sugestão para deolhonoplano@acaoeducativa.org.

 

 

 

Na perspectiva de Moss, Pence e Dahlberg (2003), compreendendo que os serviços de atendimento à primeira infância são, antes de tudo, resultados das próprias concepções de infância e de educação construídas socialmente, um dos atuais desafios da educação infantil é a compreensão das construções sociais da criança no espaço social.

 

Afirmar que a infância é objeto de construção social (Coelho, 2007) significa afirmar que o estatuto da criança, ou seja, suas designações e características não são inerentes e universais, mas que cada grupo social formula um entendimento daquilo que lhe é permitido ou não.

 

Uma rápida análise dos documentos oficiais que abordam a educação infantil – Política Nacional de Educação Infantil (2006), Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), entre outros – trazem a concepção de criança enquanto sujeito de direitos sem, no entanto, definir o que esse termo representa.

 

Conforme afirma Sarmento (2005), a representação social da infância é configurada a partir de três Ps: Participação, Provisão e Proteção. E é justamente no âmbito da Participação que se encontra a noção de sujeito social.

 

A concepção social da infância contemporânea e moderna, configurada a partir do afastamento da criança do mundo dos adultos (Ariés, 1973) fez com que a infância fosse privada do direito de participação da construção do espaço público, sendo configurada como um período de quarentena, ou seja, a infância tornou-se um vir-a-ser. Por não poder votar nem ser eleita, a infância teve seu estatuto desinvestido moralmente, como se voto fosse sinônimo de participação.

 

Se as diferentes imagens da criança que circulam socialmente são definidoras das práticas de educação infantil, então, é necessário pensar a construção social da infância em seu sentido político, ou seja, compreendendo que ela não é neutra nem desinteressada.

 

Defender a participação da criança é não somente dar-lhe voz, como também criarmos condições necessárias para essa participação, compreendendo que a criança é um ator social peculiar, ou seja, utilizando como recurso a imaginação e a aproximação com as culturas infantis (Corsaro, 2002) e criando canais de diálogo com o poder instituído.

 

 

Sabrina da Costa Dias - Graduada pela FEUSP, é colaboradora do grupo de pesquisa de Sociologia da Infância da mesma instituição. É também professora de educação infantil da rede particular de ensino.

 

 

Referências Bibliográficas:

 

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

 

BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília, DF: MEC, 1998.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de 0 a seis à educação. Brasília: MEC, SEB, 2006.

 

COELHO, Ana. Repensar o campo da educação de infância. Revista Iberoamericana de Educación. Nº. 44/3, 2007.

 

DALHBERG, G., MOSS, P., PENCE, A. Qualidade na Educação de Primeira Infância. Porto Alegre: Artmed, 2003.

 

SARMENTO, M. J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. In: Dossiê Sociologia da Infância: Pesquisas com Crianças. Educação e Sociedade. Campinas. v. 26, n.91, Maio/Ago. 2005.

 

 

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